Do jornal "O Liberal",
edição de hoje, terça-feira, 05 de fevereiro de 2013
Lideranças da etnia
Tembé dos polos de Capitão Poço e Santa Luzia do Pará, ambos da terra indígena
Alto Rio Guamá, participaram de reunião com o MPF [Ministério Público Federal],
em Belém, e denunciaram a falta de medicamentos básicos e de recursos para a
alta e média complexidade nos polos de saúde indígena.
Entre os relatos estão a falta de
abastecimento de água tratada, a falta de transporte nas aldeias e a estrutura
incipiente dos postos concebidos para atendimentos aos indígenas. "Não temos
medicamentos, água de qualidade, combustível, conserto de veículos e nem
comunicação, porque no posto de saúde não temos como nos contactar com as
instituições. Pessoas doentes vêm para Belém e ficam sem nenhum apoio e
alimentação no terminal rodoviário. A gente tem que escolher dia e programar a
doença. Ainda bem que ainda não morreu ninguém, se isso acontecer, o problema
será sério. Já enviamos documento ao MPF, Funai [Fundação Nacional do Índio] e
Sesai [Secretaria Especial de Saúde Indígena] e não temos providência
nenhuma", reclamou Naldo Tembé, do polo de Santa Luzia do Pará, município no
qual exerce o cargo de vereador.
Segundo Neto Tembé, liderança da aldeia
de Capitão Poço, que conta com cerca de 600 pessoas, a empresa terceirizada
contratada pela coordenação do Distrito Sanitário Especial Indígena
Guamá-Tocantins da Sesai, não garante medicação de média e alta complexidade há
meses. "Esse tipo de medicação é prescrita pelo médico e a empresa
terceirizada deveria disponibilizar em até 24 hs, mas há pessoas que esperam até
três meses. Poucas famílias conseguem comprar, mas a maioria dos doentes tem que
conviver com a dor", relata.
Outros problemas na aldeia de Capitão
Poço são a falta da realização de exames especializados e o abastecimento de
água. "Há três anos, a Funasa [Fundação Nacional de Saúde] aprovou um projeto
de construção de poços nas aldeias, as empresas ganharam licitação para
implementá-lo, mas somente quatro das 18 aldeias já têm água encanada. A de
Capitão Poço ainda não tem. Lá, as mulheres carregam água em cacimbas para fazer
todas as atividades", afirmou Neto Tembé, associando problemas de saúde com
a falta de água tratada.
Medicamentos são entregues por
empresa
Daniele Cavalcante, coordenadora do
Distrito Sanitário Especial Indígena Guamá-Tocantins, responsável pela atenção
primária de saúde nas aldeias, afirma que a medicação da atenção básica de saúde
já chegou a todos os polos em janeiro deste ano. Daniele afirma ter atas dos
recebimentos.
Daniele explicou que a Sesai autoriza o
distrito a contratar serviços terceirizados para disponibilizar a medicação aos
pacientes. "Fizemos pregão eletrônico, contratamos uma empresa, mas ela não
cumpriu com a entrega", disse Daniele.
Sobre o abastecimento de água, a
coordenadora falou que foi realizado processo de construção do plano distrital
de saúde indígena para os anos de 2012 a 2015 e o orçamento está sendo separado
por aldeia. Algumas aldeias de Capitão Poço têm processos no PAC [Programa de
Aceleração do Crescimento] 1 e 2 pela Funasa e ainda aguardam as
obras.
Segundo o procurador da República
Gustavo Henrique Oliveira, a reunião com os Tembés teve como objetivo levantar
informações sobre o que já foi feito e o que deve ser feito quanto às questões
da saúde indígenas que o MPF pretende averiguar in loco. "Vamos visitar os
polos de Capitão Poço e Santa Luzia do Pará, na porção norte da terra indígena,
e no de Paragominas, no polo sul, onde já foi verificado estado muito
deficiente", disse o procurador.
Às 9 hs de hoje, também na sede do MPF,
no Umarizal, haverá reunião entre representantes da Secretaria de Educação do
Estado para apurar denúncias referentes à precariedade da educação no polo Rio
Guamá.
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